O despertar da realidade
Uma pessoa com uma doença degenerativa sabe que vai piorando aos poucos, no meu caso a evolução pode ser lenta, quase não se nota ou pode acelerar e de um mês para o outro nota-se perda de funcionalidades (ou como queiram chamar).
Para mim no meu dia-a-dia, vou notando as dores, o cansaço, a falta de respirar (agora com o calor é horrível) mas é já dado como a normalidade para mim. Agora há coisas que uma pessoa faz de vez em quando, há tarefas que não são diárias que acabam por nos mostrar a realidade, para mim foi o ralar a casca de um limão. É uma coisa que raramente faço, faço quando é para doces, mas é raro. Sei que quando fiz este fim-de-semana a tarefa pareceu-me mais difícil do que da última vez que o fiz, o limão parecia gelatina na minha mão, quanto mais força fazia para o agarrar, mais a minha mão fazia o movimento de encolher os dedos largando o limão, conclusão estou pior.
Não é que me incomode de não conseguir fazer a raspa de limão, mas depois começas a reparar que já fazes outras coisas de maneira diferente. Já usas as duas mão para pegar um frasco de grão, coisa que conseguias fazer só com uma. Afinal acordas para a realidade que estás pior.
Dada essa realidade temos duas hipóteses:
1ª Hipótese desesperamos a pensar em tudo o que vamos deixar de fazer no futuro, na qualidade de vida que estamos a perder, em tudo que temos a perder com a perda muscular, na inevitável e perigosa dependência de terceiros para coisas básicas, que é uma voz que ecoa na nossa cabeça e que nos persegue constantemente.
2ª Hipótese a realidade é que já temos mais dificuldades a fazer algumas coisas, mas hoje ainda conseguimos amanhã logo se vê.
Pessoalmente eu tenho um misto, primeiro recorro a primeira hipótese e descabelo-me toda , depois com mais calma lá consigo chegar a segunda hipótese. É um processo continuo e muitas das vezes nada fácil, mas vamos em frente um dia de cada vez. Certo?